Por Dulce Furtado
A direita conservadora dos Estados Unidos está a arrancar os cabelos em fúria, incapaz de digerir uma rejeição de patriotismo que ninguém esperava: o Super-Homem, herói que jurou defender para todo o sempre “a verdade, a justiça e o modo de vida americano” ameaçou renegar a sua cidadania norte-americana e assumir-se em pleno como um “cidadão do mundo”.
(Foto: DR)
Nele o rapaz que foi criado no coração agrícola do Kansas – vindo em bebé do moribundo planeta Krypton –, antes de se tornar no defensor da América, é repreendido por um agente dos serviços secretos norte-americanos por ter participado numa manifestação pacífica em Teerão contra o autoritário regime iraniano.
O Super-Homem não gosta do ralhete, nem da retórica do Irão que condena a sua participação naquele protesto como uma “declaração de guerra” feita em nome do Presidente dos Estados Unidos. E decide fazer uso do estatuto único de que goza desde que, numa história publicada em 1974, recebeu cidadania de todos os países membros das Nações Unidas.
“Vou amanhã falar às Nações Unidas e informá-los que renuncio à minha cidadania americana. Estou farto de que todas as minhas acções sejam interpretadas como instrumentos da política dos Estados Unidos”, dispara o Super-Homem, com uma expressão de cansaço. “O quê?”, indigna-se prontamente o agente secreto. E o herói responde: “A verdade, a justiça e o modo de vida americano... já não chegam”, dando assim um enfoque global à sua luta contra o mal e os vilões.
“O mundo é demasiado pequeno, e está todo ligado”, avalia ainda o super-herói distanciando-se mais ainda da ideia de ser um defensor apenas da América e declarando estar no planeta para defender e proteger toda a gente.
Apesar de a renúncia não chegar a ser feita neste fascículo das aventuras do Super-Homem, os conservadores norte-americanos – em programas de rádio e televisão e na blogosfera – reagiram entre a tristeza e a mais furiosa revolta.
Num post feito na edição online da revista neocon “The Weekly Standard”, o influente editorialista Jonathan Last põe mesmo em causa os valores e convicções do herói. “Mas será que ele acredita no intervencionismo britânico ou na neutralidade suíça. Percebem o que estou a querer dizer-vos? Se o Super-Homem já não acredita na América, então ele não acredita em nada”.
O tumulto está a ser tal que os editores da DC Comics, Jim Lee e Dan DiDio, vieram já, em comunicado conjunto, explicar a declaração feita pelo herói. “Na história, o Super-Homem anuncia a sua intenção de dar um enfoque global à sua interminável batalha, mas ele permanece, como sempre, devoto à sua pátria adoptiva e às suas raízes como um rapaz de uma quinta de Smallville no Kansas”.