terça-feira, 17 de maio de 2011

Ciberdemocracia propõe uma revolução na política

31 de julho de 2009

Os políticos brasileiros não sentem necessidade de atender ao público conectado à rede ou ainda não estão preparados para responder ao desejo do eleitorado por relações interativas mais transparentes.

Por Rosália Vasconselos
A participação pública pela internet é um elemento novo e ainda pouco compreendido, mas vai causar grandes mudanças nos rumos dos sistemas políticos em todo o mundo.
Ao reunir vozes de um grande número de pessoas, é um instrumento de pressão a favor da democracia e da cidadania.
Para avaliar este impacto existo o conceito de ciberdemocracia, que propõe uma reflexão sobre a participação popular e a eficácia dos sistemas eleitorais, sem a necessidade de um líder.
Em comparação às democracias de civilizações clássicas, como a Grécia antiga, a internet é, hoje, a praça pública, onde todos estão conectados, permitindo que a política contemporânea acompanhe de forma sadia a velocidade da informação e as mudanças dos processos sociais.
Já temos vários exemplos recentes importantes, como as manifestações causadas pelas suposições de fraude no sistema de contagem e votação das eleições do Irã, há pouco tempo, quando a imprensa nacional patinou ao depender de informações oficiais e das tradicionais agências de notícias.

Twitter no Irã

Para quem não se lembra, desde a declaração do resultado eleitoral no Irã, a oposição acusou o governo de fraudar as eleições. Para demonstrar insatisfação com o resultado e chamar a atenção do resto do mundo, os jovens iranianos conseguiram organizar manifestações, através de redes sociais, como o Twitter, e de mensagens de texto de celular.
Após a República dos Aiatolás e o Conselho dos Guardiães atacarem a cobertura do processo eleitoral pelos correspondentes estrangeiros dos diversos meios de comunicação, a situação ficou ainda mais tensa.
O governo pressionou para legitimar o poder vigente, mesmo acusado de promover um erro de cálculo que garantisse o governo nas mãos dos Aiatolás. E divulgou a tese de uma conspiração internacional, na qual a oposição ganharia apoio de outros países através da internet para a implantar um cenário ideal para os que pretendem desestabilizar o Irã.
Não sabemos medir o real impacto da internet no atual regime político iraniano, mas o fato é que os grupos derrotados conseguiram atentar para uma situação urgente – que um amplo setor da sociedade deseja uma política mais democrática.
Além de noticiar os protestos através de celulares, podcasts, portais e youtube, a maior parte das imagens, vídeos e informações clama por maior igualdade entre homens e mulheres, mais liberdade de empreendimento, e, sobretudo, mais acesso a todo tipo de informação, seja através de livros, seja pela internet.

Onde Obama lançou seu vice

Nas últimas eleições nos Estados Unidos, Barack Obama soube usar a internet a seu favor para driblar o preconceito e os adversários políticos.
Ele anunciou o nome de seu candidato à vice-presidência pela primeira vez no Twitter, quando tinha 150 mil pessoas o acompanhando. Com 92 milhões de acessos em seu portal, conquistou, um eleitorado jovem e desejoso por mudanças na política e na democracia do seu país.
Obama soube usar, investir e, consequentemente, teve um retorno político.
A ciberdemocracia aponta para uma revolução da política, que estará cada vez mais interligada à internet, que já se provou um instrumento concreto e eficaz na busca de uma esfera pública participativa e politizada.
Através da troca de informações, críticas e sugestões, com as possibilidades das redes sociais, é possível melhorar a qualidade dos mandatos dos eleitos. Como também conhecer, com cada vez menos intermediação dos veículos de comunicação comuns, as propostas dos candidatos, tornando-se uma relação interativa essencial no aprimoramento das democracias.
Um regime político é capaz de se tornar mais efetivo quando trabalhado de forma cuidadosa e adequada.
E essa possibilidade se estampa não apenas nos países dito democráticos.
No Brasil não temos uma democratização dos recursos digitais, muito menos ciberdemocracia. Os políticos brasileiros não sentem a necessidade de atender a um público conectado à rede ou ainda não estão preparados para responder ao desejo do eleitorado por relações interativas mais transparentes, possibilitadas pelas transações online. [Webinsider]
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Sobre o autor

Rosália Vasconselos (rosalia.vasconselos@gmail.com) é jornalista.

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